Por que ainda temos cenário feminino nos esports?

segunda-feira, 26 de outubro de 2020

Ilustração: Gislene Ana Barbosa
É um questionamento que parte de algumas pessoas quando são realizados campeonatos femininos. Mas para as mulheres que estão nesse meio, a resposta já é óbvia.

Um cenário só para as garotas nos esports é essencial visto que, muitas vezes, elas são inferiorizadas. Presenciamos na última semana dois casos de machismo só no Valorant, onde os players foram demitidos das organizações. Agora imagina o tanto de casos que as garotas passam sozinhas?

Infelizmente, o machismo enfrentado pelas minas é frequente. Por isso, precisamos de um ambiente seguro para que elas possam jogar em paz sem discriminação de gênero.

Júlia Prado, jogadora profissional de League of Legends e campeã do “Girl Gamer Festival” de São Paulo, fala com muito carinho da cena feminina. Ela comenta que esse ambiente deu para ela não apenas voz, mas também a realização de um sonho.

Júlia "Jujurax" Prado
Imagem: Redes sociais/Reprodução 
“Eu sempre competi em pequenas coisas, mas quando eu entrei no cenário feminino e fiz parte do primeiro grande campeonato do cenário, me fez além de realizar um sonho, ver que aquele era o caminho que eu teria que seguir”.

Para a jogadora que também participa da organização de campeonatos, o cenário feminino ainda precisa existir, pois é um ambiente que traz oportunidades.

“É uma porta de entrada para um mundo mais igualitário. Mesmo entre mulheres, ainda temos visões, atitudes ou interferências de uma sociedade machista. Não se enganem pensando que o cenário é separatista, mas é como se fosse o primeiro caminho para aquela garota se abrir para um mundo, onde já deveria ser natural para ela. O mesmo suporte, estímulo, oportunidade e vontade que vemos em times masculinos. Eu acredito que o cenário feminino é sobre passar uma mensagem de motivação para aquelas que querem seguir essa vida, como é para muitos outros garotos que têm acesso de forma mais tranquila.

A jogadora profissional de Counter-Strike: Global Offensive, Amanda Abreu, que também é caster e criadora de conteúdo, já comentou algumas vezes em live que o cenário feminino proporcionou diversas conquistas em sua vida. Ela participou da criação desse local praticamente do zero aqui no Brasil. A AMD, que está eternizada em uma skin no CS:GO, também lançou neste mês, junto com a Fallen Store, uma linha de roupas para as garotas chamada “Play Like a Girl”. Para ela, o cenário direcionado para as mulheres é algo que veio para somar e incentivar as jogadoras.

Amanda "AMD" Abreu
Imagem: Redes sociais/Reprodução 

“Nunca foi sobre querer separar um cenário, foi justamente para incentivar mais meninas a entrarem num cenário geral. Na verdade, o cenário feminino não é para separar mulher de homem, é para incentivar as mulheres a entrar. Porque muitas vezes, quando você começa a jogar e não joga muito bem, você nunca vai ser julgada por ser noob ou ruim, você vai ser julgada por ser mulher. Isso é muito desconfortante e muitas meninas não sabem lidar com isso. Então a ideia inicial de criar um cenário feminino, foi para gente não ficar ouvindo que é para gente ir lavar a louça. 

Comentou Amanda Abreu em transmissão na Twitch da jornalista Evelyn Mackus.

Esse espaço é extremamente necessário e vai existir até quando for preciso. E as minas que estão nele merecem visibilidade. Para isso acontecer, AMD comenta que é essencial mais abertura para as garotas.

“Faltam as empresas darem mais oportunidades, empresas grandes, como por exemplo a Nike que patrocina o brtt. Com isso, o público dele conhece a marca e o da marca conhece ele. Quando uma mina for patrocinada por algo grande, mais olhares teremos. Infelizmente é tudo questão de oportunidades iguais.

Júlia Prado também fala sobre a dificuldade dessas mulheres e de minorias em ingressarem no cenário e, principalmente, de assumirem cargos elevados.

“Hoje no CBLOL temos a Marina Leite, a frente da Prodigy. Qual outra mulher você vê em cargo de poder? Quanto de ajuda temos de outras pessoas e organizações, para essas mulheres em funções incríveis? Agora pensa nas que simplesmente buscam uma chance de jogar? É praticamente nula. Para um menino é difícil, para uma menina é muito difícil e eu digo aqui, e para uma trans? É basicamente impossível. No fundo, só buscamos uma oportunidade.

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