Grupos femininos de RPG

quarta-feira, 24 de fevereiro de 2021

 


Feliz Dia Nacional do RPG! 

Esta data surgiu para celebrar a prática do role-playing game e também para incentivar mais pessoas a jogarem.

Então, realizei entrevistas com três grupos de mulheres que falam sobre o universo dos RPGs e movimentam o cenário. 



Como começou o grupo?

A Biblioteca das Ancestrais começou da indignação da Isa Gimenez ao ir em um evento presencial de RPG – bons tempos, inclusive – e reparar quão poucas mulheres tinham no local.

Como a gente bem sabe, o meio nerd não costuma ser sempre o mais acolhedor para mulheres, sabendo que o motivo dificilmente era falta de interesse, a Isa se perguntou onde estavam as mulheres do RPG. Então, ela resolveu iniciar um projeto com o objetivo de ser um espaço seguro para reunir e acolher esse público. Sabemos que está cheio de mulheres incríveis jogando e produzindo conteúdo de RPG desde sempre.


Quais são os projetos de vocês?

O servidor do Discord foi oficialmente aberto em março de 2018, e já conta com mais de 1100 membros. O servidor é um espaço misto, agregando pessoas de todos os gêneros que estejam dispostas a jogar, bater um papo e manter um ambiente saudável para todo mundo.

Contamos com áreas de acesso exclusivo para mulheres e outro para o público LGBTQIA+, além da administração estar sempre disponível para resolver possíveis conflitos que venham a ocorrer.

Nosso maior orgulho é o projeto que realizamos no Outubro Rosa, nós contamos com diversas mulheres da esfera do RPG e parcerias com editoras para fazer uma programação de lives só com mulheres jogando e narrando. O objetivo durante o mês foi arrecadar doações para uma ONG que ajuda no combate ao câncer de mama. Em 2020 arrecadamos mais de R$2300, sorteamos mais de 140 prêmios e realizamos 20 lives durante o mês que podem ser assistidas no nosso canal do Youtube.

Quem são as mulheres que fazem parte do grupo?

Desde o início, a Biblioteca das Ancestrais já contou com a presença de várias mulheres incríveis que passaram por aqui e ajudaram a erguer nossas estruturas. Hoje temos seis administradoras: Isa Gimenez, Hades Oneiroi, Juliana Batista, Milena Mistura, Mih Lestrange e Lili.

Isa, Hades e Ju são os rostos mais comuns que você vai ver lá no grupo, porque são as administradoras que mestram nas lives do nosso canal na Twitch e cuidam das nossas redes sociais.

A Mih é nossa autora oficial, ela faz artigos super interessantes lá pro Medium. Quem passa mais tempo cuidando da nossa comunidade do Discord é a Lili. Já a Milena cuida da parte gráfica, edição de vídeos e ignora a gente no Telegram rs.

Qual foi a motivação que levou vocês a falarem sobre RPG?

O RPG é uma paixão de todas as nossas administradoras. Desde as que começaram a jogar há mais de duas décadas, até as que chegaram recentemente no hobby. Nós enxergamos no RPG um potencial muito grande de abordar diversas temáticas que estão diretamente relacionadas com a nossa vida e com a mensagem que queremos passar.

Além disso, a gente teve a sensação de que tinha algo de relevante para dizer sobre algo que a gente entende e gosta. Seja por discordar de algumas coisas que foram muito repetidas, como o "jeito certo de jogar RPG", seja porque a gente tinha vontade de falar sobre criação, design, produção e tantos outros tópicos que não se restringiam apenas ao convites clássicos de falar sobre "como é ser mulher e jogar RPG".

Qual a importância do grupo dentro deste ambiente?

Infelizmente o machismo é uma realidade bastante forte e presente, principalmente dentro de meios considerados "nerds". A maioria das mulheres com as quais você conversa por aí já passou por algum tipo de situação bastante desconfortável pura e simplesmente por ser mulher. Seja assédio, "piadinha", gente pedindo a Carteirinha Nerd™, enfim. Todo tipo de micro ou macro agressão que sofremos cotidianamente parece que se intensificam dentro desse meio.

Por isso, às vezes o simples fato de a gente persistir nesse lugar e nesse hobby acaba sendo um ato de resistência. É importante que existam grupos que se proponham não só a criar um espaço onde estejamos mais seguras, como também se coloquem como um referencial de aprendizado, disposto a ouvir e aprender a tornar o ambiente mais seguro para todos.

Quais dicas vocês dariam para quem quer começar a jogar RPG?

A primeira coisa para se começar a jogar é encontrar um ambiente acolhedor, que vá te ajudar a aprender sem proselitismo e sem julgamentos. Esse espaço pode ser um grupo de amigas que queiram começar também, um ambiente com pessoas mais experientes que não sejam malas, um evento seguro (que só vai ser seguro mesmo quando tivermos tomado a vacina).

Depois disso é escolher um tema que você ache legal, porque não adianta nada não gostar de fantasia medieval e tentar começar por D&D só porque é o mais “famosinho". Existem jogos de todos os tipos, de todos os temas e com várias referências diferentes.

O jeito mais simples de descobrir esses jogos é procurar no conteúdo da galera que fala sobre RPG, algo que te interesse e tentar começar a pegar as dicas deles. A gente fez um episódio de podcast sobre isso, onde mencionamos alguns temas e nomes que podem servir de base para se começar a pesquisar.

Nosso servidor também tem espaço para quem quiser procurar jogadores e montar mesas por lá, ou mesmo tirar dúvidas sobre sistemas, pedir recomendações de jogos e tudo mais.

Por fim, a parte difícil já está toda feita. É só começar a rolar os dados e se divertir. Aprender o cenário e o sistema é consequência de jogar, não o contrário.



Como começou o grupo?

O grupo começou em novembro de 2018, em um evento chamado Darkness Day promovido pelo Brasil in the Darkness.

A nossa coordenadora e membro fundadora Deise Glaucy fez nesse evento o lançamento e o convite para que as mulheres que estavam lá, se reunissem e começassem a jogar em um ambiente livre de assédios e outros problemas que causam desconforto para as jogadoras. Nesse dia ela também fez um apelo para que os homens trouxessem suas esposas, amigas, namoradas e primas para jogarem.

O Delas RPG começou sem pretensões, a ideia principal era apenas oferecer mesas de RPG para as meninas que estivessem começando ou que apenas quisessem jogar sem nenhuma importunação e acabou ganhando proporções maiores. Abrindo espaços para que pudéssemos nos pronunciar e ser representadas. Tanto que tivemos uma série de oportunidades de participar de eventos nacionais e internacionais.

Quais são os projetos de vocês?

Atualmente mantemos uma mesa exclusiva para garotas na Fundação Cultural do Pará. Também temos a cada 15 dias, a oferta de mesa para iniciantes em Ananindeua no Centro Cultural Rosa Luxemburgo. Ambas são atividades presenciais que estão temporariamente suspensas por conta da pandemia.

Participamos ativamente na LGORPG (Liga de Grupos Organizados de RPG) aqui do Pará, nossa membra fundadora e coordenadora nos representa dentro do Brasil in the Darkness ajudando na produção de conteúdo referente a adaptação e representação da cultura brasileira e latino-americana.


Quem são as mulheres que fazem parte do grupo?

Na coordenação temos a Deise Glaucy. Já a Gabriela Ribeiro e a Beatriz Hamoy são as nossas apoiadoras. Ativamente como membro temos mais oito garotas e vários outros jogadores eventuais que levantam a bandeira do Delas RPG.

Qual foi a motivação que levou vocês a falarem sobre RPG?

A Deise Glaucy é jogadora há muitos anos e sempre assistiu/passou por situações complicadas como o assédio e preconceito dos jogadores e narradores. Claro que não eram todos, mas de certa forma, a maioria. Era visível que muitas meninas não jogavam por conta disso. Por esse motivo que foi pensado em se ter um espaço seguro para promover a integração feminina nesse hobby.

Qual a importância do grupo dentro deste ambiente?

A importância vem por conta da importunação masculina e preconceitos de narradores e jogadores, que falam que mulher não sabe jogar. De qualquer forma, um grupo feminino acaba por trazer confiança às jogadoras, um espaço seguro onde elas podem falar o que pensam sem serem censuradas, ou acabar virando piada.

Quais dicas vocês dariam para quem quer começar a jogar RPG?

Procurar um cenário de algo que goste, que realmente tenha interesse. Assim aprender é sempre mais fácil. Não desista, porque às vezes o grupo ou o sistema não te agrada muito, aí é uma questão de procurar outro grupo e/ou outro sistema. Por fim, leia bastante para ter uma ideia para onde vai e como evoluir o personagem.



Como começou o grupo?

O grupo surgiu em Belém do Pará, onde começamos com o objetivo de reunir meninas que tinham como hobby o RPG. A ideia era justamente unir essas meninas que não encontravam um lugar seguro para jogar.

Recentemente adotamos o nome Ikamiabas por representar o berço do grupo: a Amazônia. O que também tira a ideia que o RPG é só o Sul e o Sudeste.

Quais são os projetos de vocês?

Antes da pandemia só íamos até os parques da cidade e lugares públicos para jogar e apresentar o jogo para outras meninas. Participávamos de eventos na cidade, criando espaços para jogos e apresentando o projeto.

Com a pandemia decidimos continuar o projeto de modo virtual e desta forma, abrimos espaço para meninas de outras partes do Brasil e do mundo. Já fizemos cursos virtuais para as meninas que gostariam de mestrar e também participar dos nossos projetos.



Quem são as mulheres que fazem parte do grupo?

Leticia Zoia Ebersol: 25 anos, estudante que gosta de jogar: Mundo das Trevas, Dungeons & Dragons 3.5, Pathfinder, 3d&T, Old Dragon e Tormenta.

Iasmin Leap: 19 anos, cursando enfermagem, gosta de jogar Cyberpunk e D&D.

Raíssa: 27 anos, mestranda em geofísica, para RPG de mesa meu sistema favorito é D
&D e para videogames, sem dúvida meus RPGs favoritos são Dragon Age e Mass Effect.

Marla Reis: 28 anos, doutoranda em Antropologia Social, gosta de jogar Vampiro: A Máscara e D&D.

Katrine: 26 anos, Analista do Banco do Brasil, pós-graduada em auditoria e controladoria, gosta de jogar D&D e Tormenta RPG.

Jessele: 27 anos, Advogada Criminalista, joga e mestra. D&D, Changeling: the dreaming e Tormenta RPG são seus jogos favoritos.

Gabriela: 20 anos, graduanda em Psicologia, joga D&D.

Luisa: 19 anos, joga e narra Call of Cthulhu.


Qual foi a motivação que levou vocês a falarem sobre RPG?

Quando o RPG se tornou um hobby importante entre nós, decidimos que queríamos dividir com outras meninas. É importante levar isso para novas pessoas, apesar do alcance, ainda têm muitas garotas que não conhecem. Mostrar também que há vários sistemas e talvez aquele dia que você participou de uma mesa e não foi legal é porque talvez você prefira outro sistema ou outra galera. Trazer essa liberdade de ser quem você quiser dentro de um universo paralelo.

Qual a importância do grupo dentro deste ambiente?

A verdade é que querendo ou não o cenário do RPG tem um domínio masculino, o que leva muitas mulheres a se sentirem desconfortáveis ou intimidadas para entrar nesse meio. Grupos femininos como o nosso tem o intuito de fazer as garotas novatas se sentirem confortáveis e acolhidas para aprender sem imposição ou/e julgamento por gênero.

Então, o mundo dos RPGs é vasto, cheio de benefícios, tanto aqueles relacionados ao raciocínio lógico, quanto emocionais. Seria injusto que só um grupo de pessoas tenha o direito e o espaço para usufruir dos jogos.

Quais dicas vocês dariam para quem quer começar a jogar RPG?

Primeiro, separe um tempo para conhecer o RPG. Pode ser assistindo alguns jogos, até mesmo vendo vídeos de como funciona o RPG e ouvindo podcasts. Nós recomendamos canais como Formação Fireball, o podcast do Nação Garou, o canal OrgumRPG que tem muitas mesas online, além do famoso Nerdcast RPG.

Também é muito importante tirar um tempo para a leitura dos livros, então a dica é começar por aquele sistema que você já tenha algum tipo de afinidade. O RPG tem que ser uma diversão, mas somos a prova que é muito mais do que um jogo.

E meninas, o Ikamiabas está sempre aberto para abraçar vocês!

Comments

  1. Bem legal conhecer os grupos. RPG é uma coisa que me desperta interesse desde que conheci, principalmente pelos temas fantásticos de monstros, magia, poderzinho e etc. serem tão comuns. Eu sempre adorei consultar os livros e ficar imaginando criação de personagens, mas por algum motivo na hora de jogar mesmo eu acabei nunca indo muito a fundo. Até hoje ainda tenho o hábito de comprar materiais e livros mesmo sem a pretenção se jogar. Por eu ser muito novo na época em que comecei, acho que rolava uma insegurança em relação a todo estigma que tinha em cima do hobby de ser "coisa de gente esquisita". Por isso, apesar de ser menino, acho legal ver esse tipo de iniciativa para que mais pessoas se sintam à vontade para se divertir e não deixem de aproveitar e fazer coisas legais. <3

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    1. Ah, muito legal saber dessa sua experiência, RPG tá na minha vida desde criança também. É importante que todas as pessoas se sintam confortáveis para jogar!

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